domingo, 9 de novembro de 2008

Mel (Doce Melissa)




Eu adorava ouvir os relatos de seu dia, me encantava aquele jeito articulado e debochado de falar as palavras pareciam dançar em seus lábios. Ela dizia assim:
__ Coisa ‘’looouca’’ o despertador essa manha não queria calar a boca e quando enfim consegui silenciá-lo minha mãe me chamou nem queria vir à escola pensei em te esperar no portão, mas não te vi.
___ É cheguei atrasado por isso não me viu.
___ Percebi o seu atraso.
O professor a principio me mudou de lugar para que eu não ficasse conversando o tempo todo com Melissa. Ele até chamou meus pais dizendo que eu seria o único prejudicado. E ainda disse a minha mãe.
___ Minha senhora não leve a mal, mas essa tal de Melissa como posso te explicar, bem ela falta às aulas, conversa o tempo todo. Entretanto nas avaliações sabe se como ela se sai muito bem e já o seu filho tem déficit de atenção como à senhora mesmo pediu que eu tivesse um cuidado especial com ele foi por isso que a chamei.
Minha mãe nunca havia sido chamada na escola e quando o professor disse que já havia feito o possível minha mãe quase chorou. O professor fez um relato do histórico de Melissa dizendo que ela já havia sido flagrada fumando maconha no banheiro da escola e já havia sido pega pichando o muro, vivia entrando em brigas e que ainda assim suas notas eram boas e os pais faziam o possível para controlá-la. Enfim disse a minha mãe creio que quem esta perdendo com essa amizade e somente o seu filho.
Minha mãe não me bateu, não brigou comigo me mudou de turma e ao chegar a nossa casa disse:
___ Amanha você começa estudar à tarde na quinta serie F e não quero mais falar sobre isso. Como eu não podia sair de casa a noite e durante a tarde estaria na aula minha mãe pensou que tudo havia sido resolvido.
Logo na primeira tarde Melissa entrou no intervalo com um caderno embaixo dos braços para uma ‘’pesquisa’’. E na saída da aula me esperava no portão embora a gente não estudasse mais juntos eu passava grande parte do dia com ela. Minha mãe ficou feliz com minhas notas todas azuis. Eu até tirei um oito em geografia um fato único até então. Quando minha mãe conversava com minha tia durante um almoço de domingo minha tia disse que meu primo estava com notas muito baixas. Minha tia ia dar a maior bronca no meu primo. Quando minha tia disse:
___ Por que você não faz como seu primo.
Meu primo não pensou duas vezes para responder:
___ Não tenho aula particular igual ele.
Minha mãe com um sorriso cheio de orgulho ainda disse:
___ Seu primo também não tem.
Não sei acho que é por isso que até hoje não gosto dele. Meu primo respondeu a minha mãe tem sim, ele tem aulas com a Melissa depois da aula.
Como eu havia saído com meu pai para comprar carvão não presenciei a conversa.
Mas minha mãe me disse assim que meus tios se foram no final da tarde que bastava minhas notas caírem para eu ficar proibido de ver a Melissa. Como minhas notas continuaram a subir minha mãe permitiu que Melissa freqüentasse nossa casa e no fim acabou gostando dela a sua maneira cheia desconfiança e carinho.
Minhas notas nunca poderiam cair com o método de ensino de Melissa a cada acerto ela me dava um beijo. Na casa de Melissa eu conheci tudo que a vida tem de melhor. Os livros de seu pai que eu lia e que ele sempre me emprestava isso quando não me dava o livro de presente.
Além do gosto pela boa musica já que a mãe de Melissa tocava violão e cantava também aprendi apreciar a boa comida preparada por dona Neide empregada da família que me tratava como um filho com beijos e abraços. Mas o melhor disso foram às coisas que aprendi com Melissa. Quando seus pais saiam o que era quase sempre. Ela me arrastava para o seu quarto perfumado pelo incenso acendia um baseado que ela roubava de sua mãe e ficávamos horas no quarto descobrindo o sexo e o significado da palavra: cumplicidade.
Sobre amor acho que nossa relação tinha algo maior que o amor que se vê nos livros e na televisão. Era como se fossemos um só era incrível como era fácil ser feliz com ela ao meu lado.
Quando ela se mudou para o Rio de janeiro devido à morte de seu avô eu quase morri e ela também.
O tempo não para e todos mudamos. Minhas notas caíram e enquanto eu crescia com a sensação de ter perdido algo único me consolava saber que em algum lugar existe uma garota feliz que dança mesmo sem musica, que canta andando pelas ruas com as palavras dançando em sua boca. Sempre que penso em Melissa um sorriso me vem um sorriso que me diz:
___Não se preocupe ela te deu a felicidade agora só preciso lembrar onde guardei.
Existem milhões de coisas belas dentro de cada um de nós e o que a de mais belo em mim é a lembrança de Melissa.

4 comentários:

Anônimo disse...

Nossa... isso é muito bom, a história é muito boa. Nossa... a escrita, digo, a formatação, até a disposição dos elementos é que é meio "cru", diga-se assim. Mas a história é muito boa. Pode ser lapidada, explorada! Gostei muito, parabéns. Espero que não tenha abandonado o blog ou a escrita. Enfim, sucesso.

Unknown disse...

Amei esse conto realista.Vou até imprimir para insentiva meus pequenos.um tem muitas dificuldades a outra só retrocedeu um pouco no antigo colégio,mas rápido chega lá.É mais para ele.

Unknown disse...

Como é o nome do autor do conto? Gostei de conto, vou fazer um trabalho com ele.

Éder disse...

Éder Aparecido Francisco