terça-feira, 4 de novembro de 2008

Uma chuvinha



Qualquer pessoa pode escrever até eu consigo. Mas para que escrever em um país que não tem o hábito de ler. Por aqui só se lê na época do vestibular verdade seja dita. Pergunte o nome de dez escritores brasileiros vivos não será surpresa se na resposta não houver mais que três ou quatro.
Ai eu pergunto para que escrever em um país que não lê?
Se chovesse um ano diariamente você pararia de sair de casa, deixaria de jogar futebol, de caminhar na praia? Alguns deixariam de viver eu sei e se contentariam com uma ração diária. Outros, porém continuariam namorando no portão, continuariam caminhando no calçadão e viveriam como se o sol continuasse a brilhar porque na verdade ele continua a brilhar mesmo quando chove até a noite e é por isso que escrever ainda é importante. Enquanto a maioria segue vendo três novelas diárias alguns estão devorando Victor Hugo, mastigando sua poesia em prosa.
Não sei dizer se em todo lugar é assim. Experimente sair com um livro embaixo do braço e você verá os olhares ti seguindo como se algo estivesse errado. Sei disso por que esses olhares me seguem como se eu fosse um leproso ou tivesse tatuado na testa o símbolo do nazismo. E isso é um sinal negativo que representa o quanto às pessoas não estão habituadas a verem este objeto secular que é livro.
Quando um cantor tem muito talento aqui nas pobres Américas, logo vai para os Estados Unidos porque o americano devora a arte tanto a erudita quanto a popular, devora tudo que de bom e ruim, mas quem pode dizer o que bom ou ruim, eu não posso você pode?
Quando escrevo sabendo que estou cercado de seres medianos sabendo que o talento é pequeno e a ignorância gigante. Penso em meu avô que morreu sem saber ler e escrevo se amanha não houver porque, tudo bem, ainda assim continuo porque não vou deixar de namorar no portão e de caminhar não calçadão olhando o mar só porque chove sem intervalo a uns poucos trezentos e sessenta e cinco dias.

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